quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Breve história do radioamadorismo

O radioamadorismo é uma técnica excitante, usada para se comunicar com outras pessoas, ultrapassando fronteiras e rompendo a barreira das distâncias, para travar amizade sincera e duradoura com outros entusiastas, sem qualquer interesse pecuniário. Talvez apenas aqueles que viveram a experiência poderiam dizer da emoção de montar uma pequena estação de rádio e falar com outro radioamador em outra cidade, país ou continente. É uma forma de auto expressão e de amizade em termos mundiais que não tem comparação.

Sem dúvidas, muitos dos que hoje são técnicos e engenheiros de comunicações despertaram seu interesse pela profissão através do radioamadorismo, dando-lhe crédito pelo início de suas carreiras profissionais. Se a experiência é um critério adotado em alguns países, o entusiasmo que guia os radioamadores na escolha de suas profissões no campo do rádio e da engenharia eletrônica é indescritível. Qual a melhor maneira de aprender a respeito de radiocomunicações que não seja participando? Temos certeza que muitos dos jovens radioamadores de hoje serão os engenheiros profissionais e cientistas de amanhã.

O começo do radioamadorismo

Como começou o radioamadorismo? Nos últimos anos do século XIX, já existia um interesse acentuado na nova maravilha da época — a eletricidade. Os experimentadores, principalmente na Europa e América do Norte, já faziam pequenos eletromagnetos, motores, pilhas secas, máquinas estáticas, estendiam linhas telegráficas e construíam um sem número de outros projetos de aparelhos elétricos.

Uma antiga estação de radioamador.
Uma antiga estação de radioamador. Imagem: Creative Commons

Entretanto, não foi antes do fim de 1901 que um acontecimento tomaria conta da mente destes experimentadores: Marconi cruzava o Atlântico com sinais de rádio. A imprensa mundial se referia ao acontecimento com júbilo, descrença e triunfo. O "sem fio" corria de boca em boca. Grande número de amadores das experiências elétricas abandonou seus eletromagnetos, pilhas secas e motores para explorar a maravilha das radiocomunicações. Nascia o radioamadorismo!

Durante a primeira década do século XX, a experiência dos amadores no campo do rádio era uma tarefa difícil, já que o material técnico necessário era muito escasso. A estação típica do radioamador daqueles dias consistia de uma bobina de indução, um capacitor, uma faísca para transmitir, um cristal de galena e um fone de ouvidos para recepção. Era comum para aqueles primeiros radioamadores manter contato com outras estações usando este tipo de equipamento, cobrindo distâncias de 80 a 160 quilômetros.

Não havia naquela época regulamentos internacionais, já que não existia legislação de rádio. Cada um tinha direito ao éter, e durante a primeira década do século XX o número de radioamadores operando excedia o número de estações costeiras e móveis marítimas — um fato que qualificaria o radioamadorismo como o "decano" dos serviços de Rádio.

Os radioamadores foram pioneiros

Desde o começo, o radioamador tem sido um pioneiro. Ele ajusta e experimenta, tenta "isso" e "aquilo", sempre com o propósito de aumentar o alcance da comunicação ou a eficiência do equipamento.

Não vamos fazer uma descrição detalhada de todas as contribuições feitas pelo Serviço de Radioamadores no campo da radiocomunicação. Os radioamadores foram, entretanto, os primeiros a demonstrar a grande utilidade das ondas curtas e foram também os pioneiros no uso do espectro de VHF e UHF. Foram os primeiros a projetar praticamente os equipamentos de transmissão e recepção empregando válvulas a vácuo, e contribuíram bastante para a pesquisa da radiopropagação como, por exemplo, a dispersão transequatorial. Foram os primeiros a abolir completamente as transmissões empregando faísca e também a utilizar a telegrafia (CW). Do mesmo modo, foram pioneiros no emprego dos amplificadores paramétricos nas faixas de amadores. Basta dizer que desde o seu nascimento o radioamadorismo tem sido uma verdadeira câmara de compensação de ideias, e um campo de provas para quase todos os grandes projetos técnicos e operacionais no campo da radiocomunicação.

Desde o princípio, o radioamadorismo ganhou destacada reputação por facilitar as comunicações durante as emergências, ou quando os outros meios falham ou estão sobrecarregados. Os anais da história do rádio contêm um impressionante relatório das várias emergências, catástrofes, epidemias e tantos outros fatos, nos quais os amadores, com habilidade e devoção, e até mesmo com sacrifício pessoal, serviram suas comunidades e trouxeram recursos rápidos àqueles que necessitavam. Grandes dificuldades foram atenuadas e milhares de vidas e propriedades valiosas foram salvas por seu esforço. Os radioamadores consideram essa assistência não um dever, mas uma oportunidade de poder servir à humanidade.

A exploração do espaço

A exploração do espaço abriu uma nova era para o radioamadorismo, como fez para todos os serviços de comunicações. Ingressou na era espacial em 12 de dezembro de 1961, com o lançamento do satélite OSCAR I. Construído inteiramente por radioamadores e transportando um transmissor operando na faixa de 144 MHz, o satélite foi rastreado por observadores de trinta países, enquanto orbitava por um período de três semanas. Outros lançamentos de satélites para radioamadores ocorreram com êxito e, no momento, dezenas estão no espaço permitindo seguras comunicações intercontinentais para centenas de amadores nas faixas de VHF e UHF.

É oportuno notar-se que em muitos países a primeira comunicação espacial foi feita através do satélite de amadores, ao invés de serem utilizados os satélites comerciais, quando estes, anos depois, já eram disponíveis.

Os radioamadores são progressistas

Como puderam os radioamadores sobreviver a um aumento do número de operadores sem que se tenham autodestruído? Apenas pela adoção de técnicas mais modernas e aperfeiçoamentos na operação. A faísca foi a primeira forma de radio transmissão, mas quando se desenvolveu a onda contínua da radiotelegrafia, os radioamadores utilizaram-na imediatamente como uma maneira não apenas de alcançar maiores distâncias, mas também para reduzir a interferência. Da mesma maneira, adotaram a radiotelefonia em banda lateral simples, com portadora reduzida, para substituir a amplitude modulada, porque o sinal era mais eficiente, alcançava-se maiores distâncias e também porque permitia que mais estações trabalhassem dentro das limitadas gamas de frequência. Os amadores fizeram tudo isso voluntariamente, sem a opinião de nenhuma junta internacional de peritos, e sem ferir a legislação, porque reconheciam que o potencial de utilização do espectro de rádio nestas novas modalidades era um meio de sobrevivência. Paralelamente, desenvolveram outras técnicas que auxiliaram a absorver o número sempre crescente de radioamadores.

Nesta tentativa de maximizar o uso das frequências, os receptores foram aperfeiçoados através da adoção dos filtros mecânicos ou de quartzo, que reduziram a largura da faixa, melhoraram a relação sinal/ruído e assim, pela redução da interferência, tornaram mais eficiente o uso das faixas. É interessante notar que o tão conhecido receptor de sinal simples foi desenvolvido por um radioamador e imediatamente aceito como padrão no campo das comunicações.

A melhoria da recepção e eficiência das transmissões são alcançadas cada vez mais pelo uso de antenas altamente direcionais instaladas de um lado ou do outro da área de operação, eliminando a interferência e propiciando transmissões de maior confiabilidade.

O uso de faixas distribuídas, através de tratados internacionais e de osciladores de frequência variável, de grande estabilidade, permitiu aos usuários ajustarem suas transmissões, evitando, com isso, a interferência paralela, ou seja, de uma para outra estação.

O serviço de radioamadores, vibrante e vigoroso, é talvez o mais entusiástico de todos os que utilizam o espectro da radiofrequência. Têm sido eles os responsáveis por grande parte do desenvolvimento técnico e, de forma pioneira, no campo das comunicações prestam serviços inestimáveis aos seus semelhantes, estabelecem um relacionamento entre as pessoas, de caráter internacional, que talvez não seja igualado por qualquer outra atividade, além de fornecerem uma reserva de técnicos e operadores bem treinados, que já provaram seu valor a muitos membros da União Internacional de Telecomunicações.

O radioamadorismo é dinâmico e o futuro nos parece ser mais excitante ainda que o passado. Diferente dos outros serviços de rádio, o de amadores não mede seu sucesso pelo volume de tráfego, orçamentos compactos, índices de audiência ou lucros, mas, simplesmente, de que maneira serviu bem à humanidade.

Em muitos países do mundo existe um número considerável de radioamadores, e quase sem exceção estes estão agrupados em associações de classe. A direção central de tais organizações fornece boletins mensais para seus membros, coordena as suas atividades de operação, instrui e orienta seus membros, e mantém ligação com outras entidades amadorísticas.

A União Internacional de Radioamadores

Assim como é essencial que exista uma União Internacional de Telecomunicações para coordenar as atividades pertinentes em escala mundial, deve existir também uma organização de radioamadores para representar internacionalmente os interesses do serviço de radioamadores. Esta organização é a International Amateur Radio Union IARU (União Internacional de Radioamadores), fundada em 1925, em Paris, e atualmente representando 172 grandes e progressistas sociedades de radioamadores ao redor do globo.

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